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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Estado: Grave


1 bj às notas graves, à música Three Seed, do Silversun Pickups, inspiração da vez, e à própria banda, que sempre me emudece (quando não estou cantando junto, claro).

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Eu, amor e eu

- Estou para histórias de amor.
- Ah, não me diga... que surpresa.
- Poxa, cara, você não aceita meu romantismo mesmo. Você e suas ironias...
- Ok, desculpe. Comece de novo.
- O quê?
- O nosso diálogo.
- Não.
- Vai logo!
- Hm, tudo bem... estou para histórias de amor.
- Ah, não me diga... Ei, calma, volta aqui!, estou brincando. Aceito seu romantismo, até porque tenho meu romantismo também.
- Você? Romantismo? Por favor, né.
- Claro que sim. Não é porque eu transformei o amor em ciência que...
- Ah, deixa suas teorias científico-amorosas um pouco pra lá. Quer saber a história de amor da vez ou não?
- Ok, ok...

"Ele e Ela eram melhores amigos. Ela era linda, inteligente, interessante e popular. Ele, bobo, infantil e odiado por todo o corpo docente do colégio."

- Ei, pode parar.
- Oi?
- Issó aí é história que toda menina de treze anos já criou na cabeça. Falta você falar que a garota se chama Hilary ou Lindsay.
- Ah... mas ainda pode ser uma história de amor. Toda história é uma história de amor.
- Ok, princesa Amnéris. Mas, a não ser que essa história de melhores amigos tenha algo bem inovador, ela acontece o tempo todo.
- Mas é amor do mesmo jeito!
- Claro que é, nunca disse que não era. Só quero que me conte uma história cujo final eu já não saiba... melhora isso aí!
- Agora você já me fez perder o fio da meada...
- Então, hm... vou te ajudar.

"Ele e Ela eram melhores amigos. Ela era bonita, divertida, polida e afável. Ele, feio, rústico, rude, de mal com a vida. Só ela o compreendia, o resto do mundo o queria bem longe. O irmão dela tinha ciúmes da relação deles, o que fez com que Ele o odiasse, e vice-versa."

- Ei, ei. Vai falar que eles moravam n'O Morro dos Ventos Uivantes também?
- Qual é, eu tava tentando ajudar. É mais interessante que melhores amigos num colégio.
- Mas o amor acaba sendo o mesmo nas duas situações; aliás, em qualquer situação.
- Já disse que só quero uma história mais interessante. E, sim, estou de acordo com o que disse. Amor: a mesma reação química, incomodando desde os primórdios...
- Lá vem você com sua ciência...
- Vai me dizer que amor não é reação química?!
- Vou dizer isso sim. Reação química pode até ser consequência do amor, mas ele em si é algo muito além de nossa vã compreensão, é uma força superior!
- Lá vem você com sua espiritualidade...
- Cara, não tem nada a ver com a minha espiritualidade. Já amou alguém?
- Já.
- Pois eu também. E digo que sinto algo ao meu redor quando amo. Algo externo me abraçando, nos abraçando. É demais! É como se houvesse uma terceira pessoa com a gente...
- Olha, vou te dizer que essa suruba aí é imaginação sua.
- Não é! Eu não entendo... como alguém que diz que já amou não sentiu isso?
- O que você está nomeando de força superior externa é algo que aconteceu dentro de você. Seu cérebro te fez sentir aquilo. Olha, eu não discordo que a sensação é sublime. É sim, e digo até que é a coisa mais sublime que eu já vivi. Mas é pura reação química. Amor é o nome do processo em que seu cérebro é estimulado por coisas boas, coisas que te agradam e fazem bem, e ele libera um monte de não-sei-o-quê na sua corrente sanguínea... e te dá esse barato aí.
- Argh, essa sua teoria tira toda a beleza do amor.
- Claro que não!
- Enfim, enfim! Vamos continuar nossa história. Minha vez, agora.

"Ele e Ela eram vizinhos, aqueles que só dizem bom-dia-boa-tarde. Ele era um cozinheiro independente, feliz com o que fazia e plenamente satisfeito com a própria vida rotineira; existia. Ela, uma cantora, uma artista!, curiosa, sedenta por conhecimento, pensante e, consequentemente, insatisfeita; queria sempre mais."

- Ei, agora tá melhorando. Posso continuar?
- Pode.

"Ela entrou no restaurante. Leu o cardápio, sem surpresa ou interesse. O garçom a aborda e Ela diz que quer uma surpresa. Ele não entende. Ela repete que quer ser supreendida. Ele diz que as surpresas não são com ele, que ele só traz as surpresas às mesas. Ela pede que mande tal pedido para o cozinheiro, e o cozinheiro que se vire! 'Não garanto nada, senhorita', ele diz. 'Ninguém garante.'"

- ...
- Continue!
- Só depois que você me der bons argumentos para dizer que minha teoria tira a beleza do amor.
- Ah, esquece isso e continua, vai.
- Não. Você me intrigou.
- Tá, tá... é meio óbvio, né? Você tá transformando o amor em ciência, em química!
- Mas tudo é química! VOCÊ é química. É composto de matéria orgânica que, no final, vai virar adubo.
- Ok, Tyler Durden. Não acho que sejamos apenas química. Não é possível que não haja uma alma dentro de nós, não tendo tudo isso que temos na nossa cabeça. Nosso pensamento é algo abrangente demais pra ser apenas químico, sem contar tudo o que somos capazes de sentir.
- Ai, ai... não entendo por que os seres humanos se sentem tãããão especiais só porque podem pensar, questionar. Quem falou que isso é vantagem? É só uma característica, tudo culpa da aleatoriedade evolutiva!
- Meu santo Deus, vai apelar pra Darwin?!
- Meu santo Darwin, vai apelar pra Deus?!
- Argh!
- É sério! Só pensamos (no sentido de questionar, ok?) porque nosso cérebro é capaz, tem uma configuração que o permite, e, sei lá, o dos pombos não. Assim como os tamanduás têm línguas grandes, e nós não. São só características diferentes, adquiridas com a evolução.
- Blá, blá, blá.
- Ih. Criacionista?
- Também não, né? Eu acredito na evolução, mas... poxa, pensar não é algo comparável a ter uma língua gigante. Por que nós pensamos?!
- Sei lá eu! O mundo é aleatório e sem sentido, ninguém nunca vai saber por que pensamos!
- Temos alma!
- Somos matéria orgânica!
- ARGH!
-...
-...
- Ok, ok, vamos manter a saúde da discussão. Você fica com sua alma e sua espiritualidade, e eu fico com o meu ateísmo e naturalismo. Voltemos à minha teoria.
- Não. Voltemos à história de amor.
- Nossa, é mesmo... já tinha esquecido. Continue você.
- Tá bem.

"Ele recebeu o pedido, mas não soube o que fazer; afinal, que louco pediria isso? Tão acostumado à sua rotina e sua mera existência, uma coisa daquelas lhe causou certo êxtase, ansiedade e um certo desespero. 'Quem pediu isso?', Ele pergunta ao garçom. 'Uma senhorita da mesa 17.' Ele foi conhecê-la, ver se tinha algum tipo de inspiração, uma luz mostrando um novo prato. Quando a vê na mesa, seu coração bate mais forte e..."

- Cansei dessa história.
- Eu também.
- Já prevejo o final dela: ela é uma doida que mostra um mundo novo pra ele e tal, tal, tal, ele se apaixona e etecétera, etecétera, etecétera.
- Vou tentar outra.

“Ele e Ela eram meros conhecidos, mas sempre se gostaram; aqueles segredos que a gente esconde até de nós mesmos. Tinham dez anos e estavam na quarta série.”

- Pô. Quarta série?
- Ah, cara. Tou tentando variar os temas e situações...
- Dez anos!
- E não existe amor aos dez anos?!
- Pode até existir... mas acho difícil.
- Pois eu acho que pode haver sim.
- Mas não vai sair muita coisa dessa história: paixonite de dez anos só desvira segredo quando ela já sumiu.
- Nossa, pior que é verdade. Bem, minha criatividade está um tanto morta... voltemos à sua teoria, então.
- Isso. Quero te convencer de que ela não tira a beleza do amor. Não é porque é química que perde a magia; passa a ser parte da natureza. Essa teoria o torna muito mais humano, porque, sendo um processo que produz no nosso cérebro essa sensação sublime, é algo realizado por nós! Nós produzimos amor! Não precisamos externar algo tão bonito só porque não é compreendido.
- Amor é um treco muito perfeito para ser produzido por seres tão falhos como os homens.
- Defina perfeito.
- Ah... é a solução pros problemas do mundo.
- Solução pros problemas do mundo é o respeito e uso da razão.
- Mundo melhor é feito com respeito; mundo perfeito é feito com amor.
- Bem... pensando assim... verdade, amor deve ser posto nessa lista. Enfim, o amor é meio cruel. É troca de interesses.
- Ah, nem venha com essa!
- É sim. Você não é capaz de amar alguém que não te faz bem. Você ama sua mãe porque ela te alimenta. Você ama um amigo porque ele te compreende, te acolhe, te faz rir, não sei. Você chora no enterro de alguém de que gosta porque ele fará falta pra você, porque VOCÊ vai sentir falta, VOCÊ sofrerá com isso, e não porque a pessoa morreu mesmo.
- Claaaaaro. Por isso que uma garota, quando um cara faz algum mal pra ela, continua o amando, né? Por isso que uma mãe continua amando o filho mesmo depois dele fazer um montão de cagadas...
- Bem... mas isso deve ser porque... não pensei nisso ainda. Mas viu só como o amor é falho, assim como os homens? Cheio de incoerências!
- É. Isso é verdade. Mas nhé, nhé, nhé. Definir amor você até conseguiu, mas entender como ele funciona... ninguém sabe por que ama, nem o que ama.
- No fim das contas, acho que não é possível entender como o amor funciona. E, se for possível, acho que nem vale a pena pensar nisso...
- Amar é a eterna inocência, e a única inocência é não pensar.
- Ok, Alberto Caeiro.
- Eu? Você que é todo "ai o mundo não tem sentido!"...
- Ora! Agora vai me dizer que tem?!
- Ah, deve ter...
- Tem nada. Quero dizer, algumas coisas podem até ter, mas, se não têm, não é o apocalipse.
- Tudo tem sentido. Se não tem, um dia vai ter. Seja através da ciência ou da espiritualidade.
- Discordo. O homem busca tanto o sentido das coisas! Não suporta não ver lógica em algo que já fica doido! Deixe as coisas não terem sentido em paz, oras bolas. É nessa que encontram respostas tipo Deus, Chico Xavier... alma...
- Teoria das supercordas...
- Claro. Cientistas também são homens que querem que as coisas façam sentido.
- É chato ser ser humano, né? Somos meio doentes.
- Também acho um saco, mas confesso que às vezes até gosto, e que alguns da minha raça valem o sacrifício.
- O mais triste de ser homem é a nossa incapacidade de amar quem nos faz mal. Queria amar gente ruim também, mas não consigo.
- O que sente por gente ruim?
- Sei lá. Sinto nada. Tô nem aí pra elas.
- Bem, se isso serve de consolo, você só pode amar quem te faz bem, mas também não odeia mortalmente quem te faz mal.
- É... talvez. E a história?
- Que história?
- A história de amor, poxa.
- Oh é mesmo! Eu tenho uma boa história!
- Ok, então, sua vez.

"Ele era ele, Ela era ela. Ele e Ela não se conheciam. Veio a Vida, aleatória como ela só, e montou a história deles, de um jeito bem melhor que essas nossas tentativas. Talvez eles se conhecessem com o desenrolar dela, talvez não. Fim."

- Me parece muito bom. Tirando esse papo de aleatório...
- E como é que vai acontecer, então?
- Destino? Intervenção divina?
- Ih, lá vem...
- E quem é que vai saber? Eu é que não sei. Bom. Eu me declaro Incapaz de Criar uma Boa História de Amor.
- Eu também.
- Enfim, está ficando tarde e eu preciso ir pra casa.
- Eu ficarei mais um pouco. Nos vemos de novo, acredito.
- Quando?
- Não sei. Quando for necessário; ou mesmo quando não for.
- Claro. Até a próxima discussão!
- Será uma prazer. Até mais!


1, 2, 3, 1000 bjs àqueles que discutem amor.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Vaca veste verso

Eis aqui o teu meu-teco
(atenta-te, assim):

Ao meu lado há lugar vago;
Puxa então a tua cadeira
e senta junto a mim.


1 bj a Thiago Vasconcelos e à sua logo-mais maioridade.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Amanhã é dia das bruxas

1 bj à Letícia Benetti, nascida em 30 de outubro, véspera do dia das bruxas.

Amanhã é dia das bruxas.
Chapéu pontudo e gargalhada
E verruga no nariz
Perda, Dúvida, Mentira e suas amigas
Virão voando, seres vis!
Surgirão sem prévio aviso
Num rasante veloz de vazio

Amanhã a bruxa é solta.
Mas hoje é dia lindo
É dia de riso largo e riso solto
Que se ouve logo cá, logo ali e logo lá
Dia querido, florido
de amor e amigo!
Onde está Deus?
Onde está Arte?
Esse dia é inteiro em cada parte
Hoje é momento que cativa
É dia de deus morto e arte viva!

Amanhã tem bruxaria.
Mas hoje o dia é forte.
Não é meu, não é seu;
É do mundo! Oi, mundo!
Pois hoje é sempre certeza,
amanhã é sempre talvez.
Oh Bruxas! Vocês aqui não têm vez!

Amanhã as bruxas vêm,
mas bem sei que logo vão.
Pobre amanhã!
Nada é páreo para tal véspera!

Meu tão querido hoje,
saiba que perdura.
Amanhece e enlouquece,
emudece noite escura.

Amanhã é dias das bruxas.
Não mais me aflijo; estou preparada e muito bem acompanhada.
Perda, Dúvida, Mentira e suas amigas!
QUE VENHAM!

domingo, 17 de outubro de 2010

Do(a)

Querido, querida. Se uso, é porque te quero.
Que-ri-do. Ou da.
Querer estranho esse meu; se quero, quero que vá e não preciso que volte. Quero quando quero, sem quereres quitados, sem custo-benefício. Quociente de querer que se assume só.
Querido, querida. Se ouves, querido, ou da, guarda bem: tens um teco de mim.

Querido, querida. São as palavras mais bonitas!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Evidentia

Os muito sensatos que me perdoem, mas loucura é fundamental.

Numa daquelas conversas sobre orgasmos artísticos, com minha amiga e esposa Amanda Guedes, que passeiam por Strokes, Vinicius de Moraes, Beirut e por nós mesmas (por que não?), veio à pauta uma mulher digna de nota.

Francesa, 45 anos, bailarina. Existe aquela ideia de que carreira de bailarino clássico dura pouco; é até verdade. De que aos 45 anos já se deve estar aposentado ou dando aulas aos seus sucessores. Mas isso não é nem de longe, ou de muito longe, aplicável à mulher de corpo magro, esguio, ágil, flexível, expressivo e de controle e possibilidades impressionantes.

Da primeira vez que tive contato com seu trabalho, confesso que não o compreendi muito bem; ele permaneceu algo vago e misterioso. Percebi, porém, que era profundo, profundo demais para que eu pudesse traduzi-lo. Resultou em frustração, porque sabia que dali muito se podia tirar. Intrigante.
Era bem mais do que se via. Ou era simplesmente o que se via.
Espantoso, hipnótico.

E, há um ano, foi com esse discurso, num inglês afrancesado que transcrevi com certa dificuldade, que me atingiram suas palavras pela primeira vez:

“Acho que você precisa ser louco para ir para o palco, sério, porque... todos os loucos são completamente normais, eu não sei. Talvez as pessoas de fora que são loucas. Não ser louco evita muita... liberdade. Duas pessoas realmente loucas conversando uma com a outra, quero dizer, mesmo que elas falem línguas diferentes, se compreendem."

Tal efeito o do trabalho, tal efeito o do discurso.
Um ano se passou, minhas atenções foram pra outros cantos, e acabou que me lembrei dela: fui ouvir novamente suas palavras e assistir à sua arte outra vez. Desta vez, busquei algo mais; não ficaria apenas com o aperitivo.

“Tem a ver com amor, tem a ver com paixão, e a maioria dos profissionais se esquece disso.”

Então, ela faz arte, e a faz com amor? Como se reúne e faz-se compreender e definir as duas coisas mais incompreensíveis e indefiníveis? Loucura.

“Para dar, produzir emoção você tem sempre que ser duvidoso sobre o que faz, sobre o que fará e o que fez também, porque duvidar e arriscar cria um momento de urgência para encontra emoção real. (...) se você prepara muito, se você pensa muito sobre, todo o instinto, tudo de si mesmo (...) se esconderá em algum lugar, atrás da coreografia, atrás de todo esse tipo de coisa. Mas, se você duvida, você realmente coloca-se nu.
(...)

É importante temer ir ao palco, do contrário (...) você sabe exatamente o que funciona, o que não funciona, o quanto você tem que dar; fica fácil de fazer. Isso é arte, (...) cada vez que você dá um passo para o palco, é importante saber que isso é perigoso, que você tem que encontrar uma maneira de ir mais para dentro de si, mais profundamente a cada vez, pra encontrar e saber se você é capaz de dar mais; se você TEM mais em si.

(...)

Sinto muito prazer brincando com meu corpo e meus pés e minhas pernas e minhas costas, e pode até ser divertido... há tantas possibilidades para descobrir novos, bem, movimentos e expressões de si mesmo, e essa técnica pode também ser muito recompensadora.”

Ela é louca.

Mostrei esses dizeres para Amanda, que é também amiga de arte, de amor e de filosofia; logo em seguida, estávamos recitando declarações de amor para a tal bailarina pirada, felizes por não falarmos francês, mas ainda assim falarmos a língua de uma francesa em especial.

Sabe, isso tudo não é aplicável apenas à dança, tampouco apenas à arte. Quero fazer deste texto um convite e um incentivo pra que ninguém tenha mais medo de olhar para dentro de si mesmo e descobrir e explorar o que raios jaz por ali. Não se preocupe; por mais espantoso que seja, por mais doentio que pareça, por mais sem sentido que soe, por mais louco que aparente, calma! É apenas você. Ponha-se nu.

As possibilidades não são poucas.

Aja duas vezes antes de pensar. Planos são uma merda. Ideias de nada valem se a ação não corresponde.
Fique louco.

Confesso que eu mesma encontro obstáculos para seguir tudo o que nos disse a artista em questão (tenho problemas com planos...), mas tento. E, mesmo que eu tenha amadurecido e me explorado um pouco mais, ela continua sendo espantosa, hipnótica e intrigante. Talvez eu não seja louca o suficiente – ainda.

Pessoalmente, as tais coisas indefiníveis e incompreensíveis me ganharam nova cara, nova luz. Que amor, arte e loucura sejam intrínsecos; que o medo e o receio fiquem longe; que a sinceridade, o autoconhecimento, a liberdade, a emoção, a razão e as possibilidades sejam consequência.

Para todos!

1 bj admirado e agradecido à SYLVIE GUILLEM.

"Vie et danse. Life et, and dance. Evidentia." (Vida e dança)


Evidentia é um documentário feito por Sylvie em 1995, iniciado pela frase “Movement is life” (Movimento é vida). Tem 5 partes principais, mas a que escolho pôr aqui, embora recomende todas elas, é a parte 3 de Smoke. Pirem! (A parte que mais me agrada e arrepia é quando ela tira uma carta da boca, a lê, deixa cair e se olha no espelho.)



sexta-feira, 1 de outubro de 2010

(vazio)

Tudo o que eu seria e não fui
Todo o sim que eu fiz não
Todo o certo que eu fiz dúvida
Presente feito passado
Passado pesado
Passado pecado
Passado que pego e jogo fora
Feito lixo, aos seus montes
E já que deixou os resquícios da amarga indiferença
Vácuo amargo
Decomponha-se
Longe
Daqui.

(Sem bjs. 11/setembro/2010)

domingo, 12 de setembro de 2010

Frenesi

Ela ainda estava ofegante, assim como eu. Frenesi elétrico, eletricidade frenética. Seu corpo estirado na cama, e um espectador assíduo sentado ao lado dele.
Sua unhas vermelhas, que há pouco feriam minhas costas, caminhavam por sua própria pele, branca e perfeita. Destacavam-se como gotas de sangue que escorrem pela folha em branco.
E o par de olhos castanho-escuros sorria com malícia, me deixando intrigado, brotando um zumbido em meu cérebro; tal era o efeito de todo seu gesto. Indaguei o que se passava por trás daqueles olhos eloquentes. "Nada", ela respondeu, sem usar a voz, apenas sacudindo a cabeça. Seu olhar passeou por mim. Examinou cada centímetro do meu corpo nu, como se um dia fosse capaz de conhecê-lo tanto quanto eu conhecia o dela. Cada centímetro - milímetro - de sua carne estava memorizado em minha mente, através do meu tato, olfato, visão, audição e paladar, e mais os sexto, sétimo e oitavo sentidos que pareciam aflorar a todo o momento em que eu a tinha, e ela a mim.
Embolei meus dedos no mar de cabelos da cor de seus olhos, ondulados, compridos, infinitos. Viajei como um veleiro por um mar estendido pelo travesseiro macio, almejando o momento em que pudesse mergulhar nele e buscar todo o mistério que ele guardava, e puxá-lo para mim num momento de tempestade, de fúria...
Meu dedo indicador acariciou a lateral de seu tronco, nas costelas, lhe causando um arrepio gracioso, que a fez se contorcer e dar um sorrisinho abafado e lindo. Não me deixou outra opção senão sorrir também, diante de um rosto tão puro e inocente.
Mas então chegou o momento em que comecei a perder a razão. Era como o início de uma noite etílica, em que a mente é lúcida e os atos não. Sua mão quente, com cinco gotas de sangue, embalou minha nuca e afagou meus cabelos já arrepiados. Olhar inquisidor. Um suspiro. Ergueu-se e colou sua boca na minha. Sua língua brincou com a minha. Puxou meu cabelo com força.
Me deitei sobre ela novamente, sentindo o início da eletricidade começando a circular. Cheguei ao pescoço: cheiro de mar, cheiro de sangue, cheiro de folha em branco.
E como um velejador solitário, molhei a ponta da pena com sangue e arranquei a folha em branco do caderno. Tornei-me o poeta dos poetas, e despejei em minhas palavras toda a minha loucura.



(Muitos bjs.)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Escarlate

Hoje, eu, Giulia Confuorto de Castro, numa segunda feira, dia 16 de agosto de 2010, estendi meus braços ao céu e conversei com Deus.
Mostrei para o alto meus dedos médios encimados por unhas escarlate e disse "Aqui!, seu filho da puta, você não existe porra nenhuma, vai tomar no seu cu!".
E hoje, apenas, nessa tarde fria pra caralho de agosto, concluí, fatídica e indubitavelmente, que a vida não é justa.
Ah, vá.
Que um cara gente boa que ajuda os pobres, oprimidos, negrinhos e missionários (créditos Chaves - entendeu ou não, foda-se) não existe, eu já sabia. Mas deixar de crer nisso foi tão espontâneo e desenrolou-se tão continuamente, digo, de maneira lenta, ininterrupta e gradual, que nunca me causou raiva ou tristeza ou qualquer sensação ruim. Nunca tinha mandado deus tomar no cu, muito menos pessoas que ainda acreditam - eu as respeito do mesmo jeito que queria ser respeitada.
Não é preciso falar que a raiva só apareceu - e explodiu - hoje porque algo injusto aconteceu com a pessoa que vos fala. Pois é, ficamos abismados quando acontece com os outros, mas puto de verdade, só quando é com a gente. Homem é um bicho muito egoísta, não?
Sem cu doces e resumindo, meu emputecimento veio de algo que me fez concluir que princípios bons - bons na minha ótica - não valem nada uma vez que bonzinhos e mauzinhos, todos nós, estamos suscetíveis ao ato de se foder.

Aquele que devia reconhecer as boas ações não o faz. Falo dos homens.
Aquele que devia recompensar as boas ações não existe. Falo de deus.
E agora, José?

Bem, há pessoas que não têm o que comer, nem onde morar, nem têm acesso ao conhecimento e nem alguém que as ame e a quem possam amar. Vá à merda com qualquer teoria divina que justifique isso. Na boa, pau no seu cu.

A justiça tarda, mas não falha?
A justiça tarda e falha.
A justiça que tarda já falhou.

Pra quem quiser saber, fui mal educadinha com a pessoa errada. Estava com raiva da minha situação e da omissão de reconhecimento aos meus atos.
Porque, afinal, não dá pra ter raiva de deus. Ninguém tem culpa de não existir.
Até aqui, meu discurso soou pessimista e estoico, mas, em minha defesa, só digo que eu acredito no amor. Poderia escrever um longo texto sobre ele, mas não é preciso. Ele existe. E vai pra ele o meu bj hoje.
Hoje e sempre.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Queria

Queria olhar nos olhos dele ao conversar sobre isso. Queria tocar o cabelo bonito e ondulado dela enquanto me mostrava, observar suas unhas e seus pés, e tê-la ao meu lado enquanto falávamos daquela banda. Queria ouvir a respiração e risada dela, e sentir o cheiro que ele emana e o perfume que ele usa. Queria que ele me contasse como foi seu dia de uma maneira e distância que me permitissem que eu visse seus gestos e expressões. Ah, eu queria cantar com ela. Queria que fosse audível o meu grito de protesto. Queria ver a banda tocar ao vivo. Eu queria divagar e filosofar com ela, e que ouvíssemos nosso próprio riso de nossa ignorância. Queria ouvir o desabafo dele, abraçá-lo e dizer ao seu ouvido que as coisas vão melhorar. Queria te esbofetear carinhosamente. Queria ver sua cara fofa fora das fotos, e também queria beijá-la e abraçá-la apertado pelos seus tantos anos completos de vida. Queria ouvir sua risada escandalosa mais vezes. Queria que ela me contasse sobre a cantada quando eu estivesse olhando pro rosto dela, e que pudéssemos idealizar nossa história numa conversa em pingue-pongue. Queria escutar o tom de voz dele ao impor sua opinião de maneira tão nojenta e prepotente, e replicar à altura. Queria conhecer bilhões de ideias que saíssem da boca de quem as criou. Queria que ela soubesse que tinha saudades através de decibéis, através de minhas cordas vocais, e queria dizer que te amo em voz alta, porque ainda não sei fazer isso.

Quero matar a distância.
Quero matar a saudade.
Quero matar o medo.
Quero atirar em computadores.

Eu quero o calor, o toque, o olhar, o sorriso.
O hálito, o perfume, o vento, o arrepio.

Quero estar perto do mundo, porque estou pronta para ser e estar.
Quero o mundo perto de mim, pronto para se mostrar, pronto para ser, pronto para estar.
Quero que tudo esteja fora da imaginação. Vamos para o real.
Quero levar todos vocês.


1 bj para o futuro real que deve estár por vir.