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domingo, 12 de setembro de 2010

Frenesi

Ela ainda estava ofegante, assim como eu. Frenesi elétrico, eletricidade frenética. Seu corpo estirado na cama, e um espectador assíduo sentado ao lado dele.
Sua unhas vermelhas, que há pouco feriam minhas costas, caminhavam por sua própria pele, branca e perfeita. Destacavam-se como gotas de sangue que escorrem pela folha em branco.
E o par de olhos castanho-escuros sorria com malícia, me deixando intrigado, brotando um zumbido em meu cérebro; tal era o efeito de todo seu gesto. Indaguei o que se passava por trás daqueles olhos eloquentes. "Nada", ela respondeu, sem usar a voz, apenas sacudindo a cabeça. Seu olhar passeou por mim. Examinou cada centímetro do meu corpo nu, como se um dia fosse capaz de conhecê-lo tanto quanto eu conhecia o dela. Cada centímetro - milímetro - de sua carne estava memorizado em minha mente, através do meu tato, olfato, visão, audição e paladar, e mais os sexto, sétimo e oitavo sentidos que pareciam aflorar a todo o momento em que eu a tinha, e ela a mim.
Embolei meus dedos no mar de cabelos da cor de seus olhos, ondulados, compridos, infinitos. Viajei como um veleiro por um mar estendido pelo travesseiro macio, almejando o momento em que pudesse mergulhar nele e buscar todo o mistério que ele guardava, e puxá-lo para mim num momento de tempestade, de fúria...
Meu dedo indicador acariciou a lateral de seu tronco, nas costelas, lhe causando um arrepio gracioso, que a fez se contorcer e dar um sorrisinho abafado e lindo. Não me deixou outra opção senão sorrir também, diante de um rosto tão puro e inocente.
Mas então chegou o momento em que comecei a perder a razão. Era como o início de uma noite etílica, em que a mente é lúcida e os atos não. Sua mão quente, com cinco gotas de sangue, embalou minha nuca e afagou meus cabelos já arrepiados. Olhar inquisidor. Um suspiro. Ergueu-se e colou sua boca na minha. Sua língua brincou com a minha. Puxou meu cabelo com força.
Me deitei sobre ela novamente, sentindo o início da eletricidade começando a circular. Cheguei ao pescoço: cheiro de mar, cheiro de sangue, cheiro de folha em branco.
E como um velejador solitário, molhei a ponta da pena com sangue e arranquei a folha em branco do caderno. Tornei-me o poeta dos poetas, e despejei em minhas palavras toda a minha loucura.



(Muitos bjs.)

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