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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Faxina

Saí da minha casa no extremo leste da cidade para faxinar a kitnet onde passo a semana durante o ano letivo, perto da USP. Atravesso a cidade.
Perto de chegar, me lembro que não peguei a chave da kit, e fico mui chateada pelo tempo e dinheiro perdido, e pela faxina que haveria de esperar. Desmoralizada e sentindo-se uma criança por esquecer algo tão básico, tomo meu caminho de volta. Penso em como preciso tomar jeito na vida: uma mulher de 21 anos que esquece as chaves de casa! E as reflexões sobre quando vou me formar, conseguir um bom emprego, ser motivo de orgulho para os pais, os planos de ser atriz, eles têm qualquer chance de dar certo?, o capitalismo que cada vez nos dá menos espaço para vivermos plenos e felizes, as coisas que eu poderia tentar fazer para ter a cabeça mais na Terra do que em outros planetas (ioga, talvez), o pequeno consolo de que ao menos usei as tantas horas no metrô para ler um bom livro..., fazem uma nuvem em volta de minha cabeça junto com as nuvens da chuva fina que tornavam a tarde ainda pior.
A imagem do fracasso: sentada num ponto de ônibus numa tarde chuvosa, sofrendo de sua incurável cabeça de vento e refletindo os rumos de seu futuro incerto, uma jovem mulher de 21 anos chora.
Eu retorno. No meio desse caminho de volta, contudo, Acaso, o Inexplicável, me faz meter as mãos num misterioso e esquecido bolso de minha mochila. Franzo o cenho, a vida em câmera lenta: a chave.
#vaiterfaxina


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