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quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Da intimidade

A intimidade não se adentra como se adentra um quarto. Ela é uma névoa, um veneno que se respira e traga, como a fumaça dos cigarros que entonteia os fumantes e amantes de ocasião. Não existe o segredo para tragá-la. A intimidade é uma atmosfera: sujeita ao incontrolável passeio dos ventos.

Desconhecíamos portanto o segredo para que eu tragasse seu íntimo. Um quarto limpo, de tacos brilhantes de madeira, cheiro de habitado. Não é qualquer terreno.

Eu me encanto com a vista dos prédios. Vertigino com as alturas, e as janelas iguais e repetidas dos edifícios vizinhos, alucino com eles caindo sobre mim. Amo a vista dos prédios porque me dão felicidade, e felicidade é quando me misturo com o mundo.

"Posso abrir?", e abri. Sofri o espanto da brisa, das alturas, dos prédios vizinhos à noite. Me desculpei por amar as coisas poucas, como uma tonta.
"Eu amo essa janela."
"O verde?", era verde, a janela.
"Sim... e esse modelo italiano."
"Italiano? Até onde eu sei, se chama veneziana esse modelo de janela."
"Pois então..."
"Ah! Veneza!"

Nos beijamos à beira da janela. Suas mãos e a brisa da noite me lamberam as costas. Me ofereceu um copo d'água, me mostrou suas músicas, me despiu com beijos e carinho, me puxou os cabelos, amou minha beleza.

Meus pulmões saíram intactos na manhã brilhante do dia seguinte. Que coisa... ao menos assim não se adoece.





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