Páginas

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Poema azul ou Eu o desautorizo a acinzentar minhas memórias

Lembrava dos nossos dias
com a leveza da boa saudade.
Do gosto e da sorte.
Como quando pousa no parapeito
voa e some o pardalzinho
tão rápido
que, quando se vê
já foi, sorri sozinha
pra janela aberta junto à rua
e um rapaz até achou que era amor. Era leve assim.


veio o tempo
a poeira
a serena ventania

nosso retrato
um bando de traças clandestinas
fizeram um par de furos nos olhos

meus olhos te veem com umas lentes outras
sua língua quente que me lambia as costas
minha pele lembra com outros poros

meus lençóis acordam molhados
meu suor se mistura com nosso velho suor seco.
Que é essa avalanche de sonho azul que me sacode o sono?

Olhar-te e ver-te outro
é porque me ponho num espelho e só vejo uma inquieta criatura
de franzido cenho
tentando entender desconfiada por que eu não a reconheço

porque o tempo age sobre o amor como o fogo nas substâncias químicas -
nossa composição é toda outra

Nenhum comentário:

Postar um comentário