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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Chá

Estou aqui contra a minha vontade. E também é contra a minha vontade estar aqui contra minha vontade. As palavras vieram me fazer uma visita depois de um tempo que estiveram fora, tempo esse precedido por uma longa amizade, cheia de afinidade. Oi, palavras. Elas não me respondem. Oi, palavras. Mas elas estão chateadas. Eu as abandonei. Eu recusei a ajuda a longo prazo para que elas me serviriam.
"Servir" é um verbo um tanto cruel, mas o fato delas me servirem não significa que eu não goste delas.
Eu as estou forçando a estarem aqui, elas não querem, mas eu as quero aqui. E é assim que vai ser, mesmo que nessa organização nada familiar. Sentem-se. Tomem um chá.
Elas estão chateadas. Suas expressões decepcionadas me fizeram refletir sobre meu "abandono desordenado", como diria Vinicius em Ausência (elas conhecem bem Vinicius de Moraes). Abandonos desordenados causam abandonos desordenados, mas seria cruel para com minhas saudosas amigas explicar isso para elas. Como eu poderia dizer?! Hm.
Fizeram isso comigo, então fiz com vocês.
Não! Não vou dizer isto. Não é justo o que eu fiz, mas foi o que aconteceu; preferi o silêncio, então.
Como está o chá?
Bebericavam apenas, sentia que aquela visita lhes embrulhava o estômago.
Eu não sabia que o mal a curto prazo se faria bem. Vê-las depois de tudo me remoeria, e faria eterna toda a dor, e ia ficar acordando tudo o que eu me matava para adormecer. Como se elas adentrassem o quarto do adormecido batendo em panelas, assoprando apitos e berrando que era hora de acordar! Elas me irritavam!
Mas eu mal sabia que o que dormia poderia ser domado, e apenas elas, minhas companhias de uma chuvosa tarde de chá, saberiam fazê-lo.
Não disse nada. Elas estavam lá obrigadas, e eu nem pude dizer nada, nenhuma explicação. Quanta cortesia! Qualquer som à minha mesa se restringia ao tilintar das xícaras trincadas em seus respectivos pires.
Eu não sou A Menina que Roubava Livros, que, na metáfora mais bela que eu já ouvi (porque as palavras são muito mais amigas da personagem e de seu criador do que minhas), agarrava as palavras nas mãos feito nuvens e as torcia feito chuva.
Eu agarro as palavras e as obrigo a tomar chá.
Enfim. Palavras estavam em seus lugares, como as xícaras em seus pires.

Podem ir. Não me arrependo de nada e esqueçam abandonos em desordem.
Desculpem-me, palavras, e voltem sempre. 1 bj pra vocês.

4 comentários:

  1. Incomodadas as palavras estão. Melhore o gosto do chá, e deixe-o servido. Retornar elas tenderão.

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  2. gostei dos seus textos (: 1bj eheiaaheieu

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  3. gostei muito muito muito *-* Seria muito bom se, às vezes, elas decidissem tomar um chá comigo, aí eu pararia de usá-las para escrever só coisas deprimentes rs.

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